Economia e Cinema: Por Que é um Investimento de Alto Risco

Se sentarmos com um economista como Paulo Guedes para conversar sobre cinema, ele provavelmente abordará o tema pela ótica do lazer na economia.

Ou seja, o consumidor/espectador — nós, cidadãos — antes de pensar em entretenimento, precisa atender às necessidades básicas: comer, eliminar o que comeu, trabalhar para continuar comendo, garantir segurança, conforto e, por fim, dormir bem para repetir o ciclo no dia seguinte.

E, claro, existe o ego. Mostrar às pessoas que se conquistou conforto e segurança torna-se uma prioridade, mesmo que inconsciente. Daquelas que nem um ano de análise profunda revelaria completamente. Está presente em tudo: nas coisas que compramos, nas experiências que buscamos, muitas vezes só para mostrar ao mundo que vencemos.

Só depois de tudo isso surge o lazer: um hobby, um jantar especial, o show daquela banda que marcou sua adolescência, a peça com atores da sua novela favorita… o cinema.

Por isso, o cinema é, por definição, um investimento de altíssimo risco — diria qualquer economista. Basta o primeiro sinal de crise para o lazer ser cortado do orçamento familiar. Não é maldade do mercado, é simplesmente a hierarquia natural das necessidades humanas.

Oferta e Demanda na economia

No cinema, pagamos por uma experiência simulada — um universo alternativo ao nosso. Se essa experiência for menos envolvente do que um barzinho com os amigos ou um show, o cinema perde espaço. De novo: não por culpa do capitalismo, mas por decisão do próprio consumidor.

Nós, realizadores audiovisuais, precisamos fazer um cálculo intuitivo:

(Custo de produzir a história que quero contar) + (Potencial de faturamento com quem pagaria para vê-la) = (Lucro ou Prejuízo)

Chamo de cálculo intuitivo porque estamos numa área onde nada é exato. É uma fração da economia onde tudo pode acontecer.

Investimento x Retorno

Justamente por ser um setor de risco, quem tem o dinheiro para investir (e não somos nós, os artistas) vai pensar muito antes de colocá-lo no cinema.

O investidor segue a mesma lógica de prioridade que qualquer cidadão, mas de forma ainda mais racional. Primeiro investe em commodities: agricultura, mineração, energia. Depois, talvez, em imóveis. E só se sobrar — e for muito — ele pode pensar no setor de lazer.

Se você, artista, não herdou um banco para bancar sua campanha ao Oscar, precisará desses investidores. E, para conquistá-los, é preciso entender profundamente a cadeia de necessidades do espectador. Porque sem o engajamento do público (e o ingresso pago), o investidor não verá retorno.

E os investidores que amam cultura?

Sim, eles existem. Alguns são apaixonados por cultura e até gostam da adrenalina de arriscar tudo. Mas pense neste cenário:

Você sonha em jantar em um restaurante famoso, está há meses se programando. Aí, num churrasco, um amigo compartilha a experiência:

“Cara, eu fui lá e odiei. A comida é até boa mas, você paga uma taxa pra entrar, e pra sentar a mesa. Depois de algumas taças de um vinho superfaturado bem mais ou menos fui ao banheiro. Você acredita que me cobraram uma taxa de utilização? E não era qualquer taxa, era mais cara que o prato que eu pedi.
Não bastasse tudo isto, no final me acusaram de agredir o garçom! Subi um pouco o tom de voz, admito, mas não encostei no cara. Estava irritado com meu pedido que veio errado depois de duas horas de espera. Ameaçaram chamar a polícia pra me me prender por isto!
Tive que pagar uma multa astronômica pra sair. Definitivamente não vale a pena”

Mesmo assim… você ainda investiria nesse país?

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