O Dilema da Arte vs Lei Rouanet

Claudia Raia é uma belíssima artista e grande defensora da Lei Rouanet, mas tenho uma visão um pouco diferente sobre esse tema. Portanto, agora que já usei um termo polêmico pra indexar meu texto nos motores de busca da internet vamos para a minha reflexão, desabafo de hoje.


O Dilema da Expressividade

A minha expressividade é algo única e exclusivamente minha, e é da minha vontade que seja ouvida.

No livre comércio — que só existe em uma sociedade livre — irão me ouvir aqueles que estão dispostos a me ouvir. Você mesmo só está lendo este artigo no meu blog porque estava disposto a ler o que escrevi. Sempre divulgo esses textos nas minhas redes sociais — só 1% chega até aqui.

“Que absurdo! Só 1%?” Nem um pouco. Não penso dessa forma, pelo menos. Primeiro porque há pouco tempo passei a escrever pra mim. Inicialmente, este texto foi escrito na quarta edição do meu caderno pessoal de anotações sem pauta, o ARRBOOK 04. Só achei interessante publicar na internet algumas das reflexões escritas com minha Pilot Metropolitan.

Felizmente, hoje temos diversos veículos que nos permitem divulgar nossa expressividade sem muito custo. Infelizmente, poucos conseguem fazer dessa expressividade o seu ganha-pão. E é aí que começa o dilema.

Lei Rouanet e Políticas públicas de fomento à cultura

Em busca de alcançar esse ganha-pão, muitos acham válido recorrer ao Estado. “O mercado não me deixa falar” — como se esse mercado fosse uma entidade única e viva, e não os próprios cidadãos comprando e consumindo o que querem.

A realidade é que, com as políticas públicas de fomento à cultura do Estado — como a Lei Rouanet — mesmo as pessoas que não estão dispostas a lhe ouvir pagarão, contra suas vontades, para que você fale.

Na China há uma política de Estado pesada de fomento à cultura. O aumento exponencial do número de salas de cinema deixa isso claro. Já em 2018 eram 60 mil salas, contra 41 mil dos Estados Unidos e 5 mil aqui no Brasil.

Mas a China é uma ditadura comunista, onde as liberdades civis são castradas, principalmente a expressividade. Só é possível expressar aquilo que o governo permite expressar.

O Estado é uma instituição composta por pessoas que impõem suas vontades à força.

O livre mercado é a troca voluntária entre as pessoas.

Me desculpe a sinceridade, mas…

O artista brasileiro é ressentido. Vive buscando alguém para culpar pelo seu fracasso midiático.

Note: fracasso midiático é diferente de incompetência técnica ou artística. Tem mais a ver com conexão com o público consumidor de cultura.

A prova do seu distanciamento desse público é justamente as políticas que defende.

São políticas que punem o cidadão que só quer chegar em casa, depois de um dia longo de trabalho, e assistir a um filme “sessão da tarde” na TV para relaxar.

Não por acaso, é o mesmo público que não quer ouvir suas músicas, nem assistir aos seus filmes ou peças de teatro. E os que assistem, sequer têm consideração pela sua arte — já que, se tivessem que pagar pelo bilhete, ao menos estariam ali.

Só há uma única e verdadeira conexão da arte com a sociedade: quando ela mesma a financia diretamente. E isso só acontece quando essa arte se torna megafone dos seus próprios anseios e angústias.

Impostos e a Lei Rouanet

Voltando à China, o país que o Estado brasileiro olha e diz: “Quero ser igual a você quando crescer.”

O Brasil é um misto. O Estado brasileiro é socialista: nossa constituição, instituições e governos são fortemente inspirados nas ideias marxistas e keynesianas (Keynes foi um economista que dizia que o Estado precisa gastar para impulsionar a economia).

Mas a população nem de longe compactua com esses ideais.

Como não se vê capaz de lutar por independência, acaba tolerando essas políticas.

Na realidade, não tem tempo de se indignar — de tanto que precisa trabalhar para sustentar essas políticas.

A relação IMPOSTOS x INDIVÍDUO é tão tóxica quanto um relacionamento abusivo entre homem e mulher. Portanto, assim como foi feito um trabalho de conscientização sobre os abusos que as mulheres sofriam (e ainda sofrem), será preciso um trabalho de conscientização da população sobre os abusos que ela vem sofrendo do Estado.

Por isso, a arte financiada indiretamente via impostos — por pessoas que deixaram de colocar uma proteína a mais na mesa dos seus filhos — chega a ser angustiante pra mim.

O que me joga diretamente neste dilema: moro no Brasil, e o cinema brasileiro não respira sem os aparelhos do Estado.

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